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A
POÉTICA PESSOANA:
UMA PRÁTICA SEM TEORIA
A
prática criadora de Pessoa intui que as figuras formativas
da linguagem não são simples divertimentos de
adultos nem joias para enfeitar o pensamento: a metáfora
é como a nave exploratória, que ultrapassa a
atmosfera respirável e vence o vazio escuro, em busca de
novas formas de vida. Instrumento impreciso do conhecimento, a
metáfora é a nau descobridora. Pelo
condão da palavra inaugural, vê o que outros olhos
não viram ainda, transmudando a visão difusa em
objeto esculpido na pedra pela densa luz do dia.
Série
Conhecer Pessoa, 7
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O DESATINO E A LUCIDEZ
DA
CRIAÇÃO EM PESSOA
Avesso do
personagem do teatro, o personagem da cultura não pode,
impunemente, encenar o desejo, guardando as fantasias insatisfeitas em
cofres de atos falhos, ou sepultando o desejo acorrentado, sob as
pedras do sintoma. Se o menino que brinca consegue transpor as grades e
muros da realidade, o artista reinstaura, na idade adulta, a linguagem
esquecida, recuperando a vitalidade e a liberdade capazes de refazer o
real, desta vez corrigido, estruturado de uma forma mais adequada e
acessível à felicidade clandestina.
Série Conhecer Pessoa,
8
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UMA UTOPIA
EM PESSOA:
CAEIRO, O LUGAR DE FORA
DA CULTURA
Do
mesmo modo que o poeta Alberto Caeiro é uma figura de
ficção, a natureza por ele evocada em
refutação ao simbólico é
também uma natureza simbólica, ou, mais
precisamente, uma natureza
hipostasiada: uma conjectura filosófica. Ao
contrário de Kant, Caeiro olha para as coisas, e
não para o animal simbólico que as contempla: sua
utopia cognitiva consiste em ver o objeto em si, ignorando a
relação desse objeto com o sujeito.
Série
Conhecer Pessoa, 9
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